deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
estou perdido.
sem olhos, sem boca
sem dimensão.
as fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
pobre poesia.
o pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
estou lívido, gago.
eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.
deus me abandonou
no meio do rio.
estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.
(drummond)