lugar de paina
2011

sobre

Sobre meu corpo se deitou a noite (como se
eu fosse um lugar de paina).
Mas eu não sou um lugar de paina.
Quando muito um lugar de espinhos.
Talvez um terreno baldio com insetos dentro.
Na verdade eu nem tenho ainda o sossego de
uma pedra.
Não tenho os predicados de uma lata.
Nem sou uma pessoa sem ninguém dentro
feito um osso de gado
ou um pé de sapato jogado no beco.
Não consegui ainda a solidão de um caixote
tipo aquele engradado de madeira que o poeta
Francis Ponge fez dele um objeto de poesia.
Não sou sequer uma tapera, Senhor.
Não sou um traste que se preze.
Eu não sou digno de receber no meu corpo os
orvalhos da manhã.


( Manoel de Barros )

Três balanços de parque infantil aparecem na parte de cima, quase saindo do quadro. Estão pendurados por correntes e são curvos, talvez de couro. Na parte de baixo, que ocupa quase toda a foto, está o chão de areia branca e fofa, todo ondulado por pisadas. Uma pequena faixa de luz do sol entra pelo lado direito e desce até o centro da foto, iluminando também a corrente do último balanço.
O chão de areia branca de parque infantil ocupa todo o quadro, com uma faixa de luz do sol na metade da esquerda. No alto, à direita, vê-se a parte de baixo de um trepa-trepa, que lança sombras diagonais sobre a parte iluminada.
Detalhe de uma boneca ou menina desenhada com giz branco sobre uma superfície de asfalto escura, quase preta, com pedrinhas brancas muito pequenas. O desenho parece ter sido feito por uma criança.
Detalhe de um banco de cimento num parque infantil, com chão de areia branca e uma calçada na parte de baixo. No limite entre a calçada e a areia há uma cerca de alambrado com um grande buraco, mais ou menos no centro da foto. Ele emoldura o lado direito do banco. O banco está colado à margem esquerda da foto e lança uma sombra escura na areia.
Detalhe de três balanços de pneus pendurados por correntes, enquadrados da esquerda para a direita e de cima para baixo. Eles ocupam todo o quadro, exceto pelo chão, que era de areia mas está tomado por capim baixo. Nenhum dos pneus aparece por inteiro, pois o maior está cortado acima e à esquerda, o segundo está parcialmente encoberto pelo primeiro e o terceiro está parcialmente encoberto pelo segundo. Eles parecem ter recebido pintura em tons diferentes, que está desgastada pelo tempo.
Foto de um aposento vazio, muito pequeno e escuro, muito apertado. Vê-se a parede do fundo e as laterais. Na parede da esquerda, a mais estreita e mais escura, há uma pequena abertura redonda por onde entra um pouco de luz. As paredes estão manchadas e inteiramente cobertas por pequenos buracos feitos manualmente.
Detalhe da tampa de um bueiro e de duas botas velhas sobre um chão de cimento. O bueiro forma um semicírculo na parte de cima da foto, e está tampado. Na parte de baixo, ao centro, há duas botas de couro escuro. A ponta das botas toca a tampa do bueiro. Elas estão muito usadas e arranhadas, sem cadarços e manchadas com um pó branco.
Na parte de cima, no meio da foto, há uma pequena janela basculante retangular, protegida por uma grade. O restante do quadro é uma parede branca, suja e cheia de pixações. Há uma pequena faixa de calçada embaixo, quase preta, manchada e com alguns ramos de mato crescendo.
Foto de uma cadeira de plástico de jardim, infantil, escura e com uma perna quebrada, enconstada em uma parede branca, suja e manchada. Ela está sobre o chão de cimento, na parte mais baixa da foto, no centro. Acima da cadeirinha, na parede que ocupa a maior parte da imagem, há dezenas de pixações em cores escuras.
Foto de... nada. Composição estranha mostrando o chão de um estacionamento asfaltado e a silhueta escura de uma pessoa ao longe, do ombro para baixo, no canto direito. No centro, a silhueta da parte de baixo de um carro, só do meio das rodas para baixo. À direita, um meio fio, um bueiro aberto ao longe, um toco de árvore e cinco saliências de concreto enfileiradas, em forma de tronco de pirâmide, se aproximando até sair do quadro. Embaixo, uma cadeira de ferro cortada pela margem esquerda, de trama quadriculada, sem a almofada. Ao longo da parte de baixo, o meio fio com outra saliência de concreto, a calçada de cimento e um poste de metal preto, saindo do quadro na margem direita.
Um colchão com forro meio rasgado, estendido sobre o chão de terra, está encostado a uma parede velha e manchada, na parte de cima da foto, à direita. Ao lado dele aparece parte de um tronco de árvore. Na extrema esquerda, no alto, outro tronco de árvore. As duas árvores lançam sombras de galhos no chão, coberto folhinhas caídas, gravetos e sementes.
Banco de cimento revestido de pequenos azulejos brancos e quadrados, faltando alguns pedaços. Ele está enquadrado de frente e centralizado na parte de baixo da foto. Na sua frente, uma calçada de cimento. Atrás há um gramado, o tronco de uma árvore com grossas raízes, uma calçada ao fundo e a parte de baixo de um prédio, revestido com os mesmos azulejos brancos e velhos. Do lado esquerdo, uma faixa cimentada desce até a calçada em frente ao banco.
Detalhe de um chão de cimento todo manchado e arranhado, como se tivesse sido riscado em todas as direções antes do cimento secar totalmente. Esses arranhões são bem escuros, assim como as manchas entre eles. Na parte de baixo da foto, bem no centro, aparece a ponta de dois pés descalços, muito brancos e sujos.
Foto de um cartaz quase destruído, branco com letras pretas, pequeno, na parte de cima da imagem, ao centro. A parede é escura, com manchas mais claras e outras mais escuras, de algo que parece ter escorrido. Na parte de cima e nas margens laterais, a imagem está quase preta; a pouca luz está no cartaz e na parte central. O pequeno cartaz foi colado e depois teve várias partes arrancadas; com alguma dificudade, pode-se concluir que dizia "adestramento de cães", junto a um número de telefone.(Esta é a última imagem da série.)